Cidades (mais) inteligentes. Nosso próximo desafio?

Quando fui convidado para fazer essa matéria, comecei a imaginar os novos termos que ouvi nesses 59 anos de vida e relembrei: um tal de transistor que iria substituir as válvulas; um telefone, sem fio, e que poderia estar conosco durante todo o dia, à semelhança do sapato do Agente 86; efeito estufa; mudanças climáticas; logística; logística reversa; dentre tantos outros ….

E de uns tempos para cá, uma tal de “Cidades Inteligentes”, que já virou “Cidades mais Inteligentes”, pois é um termo que apareceu há 20 anos.

Afinal, do que se trata? E como a curiosidade, irmã da capacidade de engenhar, faz parte do perfil do engenheiro, procuramos conhecer essa nova dinâmica da sociedade. E, nesse momento, espero contribuir com você, trazendo conhecimento sobre esse tema.

Conceitualmente, Cidades Inteligentes, segundo a União Européia:

“Smart Cities são sistemas de pessoas interagindo e usando energia, materiais, serviços e financiamento para catalisar o desenvolvimento econômico e a melhoria da qualidade de vida.”

Estima-se que até o ano de 2.020, o mundo já tenha investido mais de 400 bilhões de dólares nesse tema!
A nível mundial, já são reconhecidas com as 10 mais: Dubai, Londres, Amsterdan, Barcelona, Hong Kong, Singapura, Copenhage, Nova Iorque, Boston e Oslo.

A Alemanha já tem a sua carta. Nela, existem proposições que vão além das tecnologias, como por exemplo: inclusão dos idosos nas tecnologias digitais e baixa emissão de carbono. Essa última, não nos causa surpresa, pois sabemos que é um país que tem como principal matriz energética a queima de carvão.

Mas, a nível de Brasil, o que define o ponto de inflexão para que possamos “carimbar” que a Cidade “A” é uma Smart City e a “B”, ainda não.

Uma grande avenida, com diversos cruzamentos, onde existem semáforos sincronizados para facilitar o trânsito, não pode ser considerada uma tecnologia aplicável às “Smart Cities”?

Um sistema de câmeras que estão conectadas a um centro de controle que ao capturar a imagem de uma placa de um veículo, soa um alerta que aquele veículo foi roubado de seu proprietário, também não é um indicativo de “Smart City”?

Diversos segmentos da sociedade estão buscando capacitar e trazer conhecimento sobre esse assunto para seus pares.

O CREA São Paulo, como forma de difundir esse conhecimento, está capacitando inicialmente os seus integrantes.
No final do ano passado, enquanto membro da CAF – Comissão Auxiliar de Fiscalização, participamos de um evento, onde pudemos nos atualizar sobre esse tema.

E nesse momento, nossa intenção é compartilhar e difundir junto aos associados da AEJ, esse conhecimento.
Uma maneira eficiente é você acessar no site da AEJ a “Carta Brasileira Cidades Inteligentes”, criada pelo Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR).

Nesse documento, podemos conhecer a agenda brasileira para as cidades inteligentes, contendo conceitos, diretrizes, princípios e objetivos.

Porém, como engenheiro que atua há mais de 3 décadas com assuntos ligados ao meio ambiente e integrante por diversas gestões em conselhos municipais, como: COMDEMA – Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente e, atualmente, no CMPT – Conselho Municipal de Política Territorial, é inerente que façamos algumas comparações.
Para que serve cidades inteligentes num país tão desigual sob o ponto de vista social, econômico e sanitário como o Brasil?

Ainda não temos capacidade de lidar com secas relativamente curtas, tal como experimentamos em 2.014 e 2.021 ou precipitações pluviométricas atípicas de 2 dias!

Dentro do contexto urbano, precisamos urgentemente encontrar uma solução adequada para a mobilidade. E então deparamos com outro impasse: adensar as cidades, verticalizando o uso nos imóveis e gerando impacto para quem já reside naquele local ou expandir a malha urbana e ocupar áreas hoje com outros usos que não o urbano?
Alguém arrisca uma resposta inequívoca para essa pergunta?

Gostaria de deixar uma reflexão: se estamos caminhando para implementar as cidades inteligentes, também devemos trabalhar para que as pessoas que nela residam também o sejam.

Para que isso ocorra, alguns costumes precisam ser repensados. Você já observou:

i. A quantidade de papelão, completamente desnecessária, que acompanha uma refeição delivery?
ii. Pessoas “varrendo” a calçada com água?
iii. Jogando lixo pela janela dos veículos?
iv. ……

Se após você ler essa matéria, você tiver a curiosidade de acessar a carta que citamos acima e comentar com pelo menos outra pessoa a abordagem que fizemos, fico com a sensação de ter atingido meu objetivo.

Silvio Eduardo Drezza é Engenheiro Agrônomo e 1º Vice – Presidente da Associação dos Engenheiros de Jundiaí. CREA 700175907